Só percebemos realmente o valor que tem um copo d'água quando a garganta inflama, e cada gole se torna uma tortura, como se mil cacos de vidro penetrassem a sua garganta. É ai que você pensa em como seria maravilhoso tomar, de uma só vez, um copo bem gelado de água...
Apenas percebemos o quanto uma amizade é valiosa quando ela se muda, para bem longe, e a única forma de manter contato é as vezes por telefone, outra vez por internet, e nos lembramos das loucuras feitas juntos, das tardes perdidas com conversas bobas, de todas as viagens, festas e maluquices que ainda jurávamos fazer juntos. E nos tocamos que, talvez, nunca mais vamos voltar a ter de novo aquela amizade de antes, como era nos “bons tempos”...
Só pensamos no merecido valor de nossos pais quando eles morrem. E nos arrependemos de todas as brigas que tivemos com eles, todas as palavras duras que proferimos, todos os dias em que não dissemos "eu te amo".
Só vamos aprender a dar totalmente valor as nossas pernas se um dia nos encontrarmos em uma cadeira de rodas, e pensaremos em como nós mal a usávamos, em como era um tormento ter que andar alguns metros, ou subir uma escada. E vamos sentir uma vontade imensa de dar uma volta ao mundo andando, de correr durante horas, de sentir o pé tocando a areia da praia, a terra molhada...
Apenas damos valor a alguém que amamos quando ela está com outra pessoa, e percebemos que, talvez, nunca mais vamos a ter. E pensamos em todos os bons momentos juntos, os beijos apaixonados, os fortes abraços, as noites em claro. E nos lembramos dos erros, a maioria bobos, que fizeram com que perdêssemos o nosso amor.
Nossa infância só tem realmente valor quando a velhice chega e a saudade bate, nos torturando a cada batida do coração. E nos lembramos de todas as brincadeiras, das aventuras, da simplicidade, das paixões pueris, dos velhos amigos, da falta de preocupação, das pequenas e simples coisas que só uma criança sabe aproveitar bem.
Nossa vida só recebe o valor que merece quando estamos deitados, e sentimos a morte chegar, lenta e cruel. Ha! É nessa hora que damos todo o valor do mundo as nossas vidas. Nos lembramos, vagamente, de todas as melhores coisas que fizemos. O primeiro beijo, a melhor viagem, a melhor festa, a melhor comida que já comemos, a família, nossos animais de estimação, nossas maiores loucuras, as aventuras, o melhor amigo, o primeiro amor, o último amor, todos os “eu te amo's” que ouvimos. E vamos sentir vontade de voltar no tempo e provar tudo isso de novo. Prometeremos a nós mesmos que se conseguirmos voltar, dessa vez vamos dar todo o valor do mundo a todos os momentos vividos, com toda a intensidade possível.
Só vamos valorizar a nós mesmos quando estivermos debilitados, e não restar mais tempo de mudar, ou de fazer nada. Absolutamente nada. É justamente ai que nossa vida vai ter valor, o merecido valor...