João morreu deitado, enfermo.
Ali mesmo, numa dessas esquinas perdidas.
João morreu numa dessas noites frias e tristes.
Não sabe-se ao certo, mas como tantos outros Joões,
talvez tenha morrido de fome, sede, dor;
tristeza, angustia, decepção ou desesperança.
João morreu sem nunca ter vivido.
Morreu sem nem ao menos saber o seu nome.
Sabia-se que era João.
João Mendigo.
João Catador de Latinha.
João Nojento.
João Ninguém.
Era tantos Joões e ao mesmo tempo, nenhum.
Ficou ali, ao relento.
Nas profundezas do esquecimento sem fim.
Morreu sem ter cumprido metas ou realizado sonhos.
Morreu.
E por ele não fez-se choro, lamentações e nem sequer velório.
Ficou lá; esquecido.
Sem ser visto.
Misturado ao lixo.
João Lixo.
Até que finalmente alguém passou.
Avistou-o.
Sentiu o mau cheiro.
Saiu em disparada.
E chutou-lhe a cabeça.
Nenhum comentário:
Postar um comentário