domingo, 21 de outubro de 2012

Paranoia

Eu acordo e te vejo na luz do sol,
que bate no teto branco.
Levanto e te vejo ao meu lado no espelho,
que reflete minha cara de bobo.

Caminho e sinto o seu cheiro suave,
seu veneno mordaz que me enfeitiça.
Na rua te vejo em outras,
paranoia eterna do amor.

Trabalho pensando em você,
seu gosto não sai de minha boca.
Em casa eu durmo e sonho contigo,
acordo querendo te ver.

Mas o tempo é meu inimigo,
e luta para eu nunca te ter.

sábado, 22 de setembro de 2012

Retalhos

Eu vi um cara estranho.
Tinha uma cara de incerteza com sono e preguiça.
Marcas de desilusão misturado com olheiras.
Olhos de medo e pânico.
Eu vi uma expressão estranha.
Me encarava com ar de egocêntrico e esnobe.
Calado, frio, sério.
Parecia rude, como se a qualquer momento fosse me atacar.
Eu vi certa emoção.
Estava nervoso, chateado, triste.
Sua fúria parecia vir do fato de eu o olhar.
Deixou uma lágrima cair.
Eu vi punhos fechados.
Um olhar de decepção e ódio, de angustia.
Eu vi uma mão se levantando, lenta e cruel.
Senti dor.
Eu vi... Um espelho quebrado.

quinta-feira, 20 de setembro de 2012

De longe todo mundo é perfeito

De longe todo mundo é perfeito.
Não há problemas.
De longe não há marcas nem feridas, dor nem angústia.
As marcas só surgem de perto, bem de perto.
De longe todo mundo é fiel e sincero.
Não existem monstros, não existe feiura.
Os olhos doem quando, ao olhar de perto, é vista toda a amargura do ser humano.
Toda a maldade embutida nos olhos.
De perto se sente o fedor exalado da pele imunda.
De longe todos estão sorrindo, mas de perto se vê a lágrima caindo.
É de perto que se enxerga a verdadeira natureza ridícula do ser humano.
Porque de longe todos são deuses imortais.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Fidelidade caseira

O mesmo carro do pecado é o carro tão sagrado do passeio de domingo.
E as palavras tão sinceras são palavras que carregam a mentira meio incerta e comovente.
A mão que abraça a filha é a mão que horas antes despiam um corpo lindo inconsequente.
Os lábios que encantam a mulher que diz que ama são os lábios que para outra jura amor.

Em família é tão digno, respeita as tradições, moralista e sincero, se importa com a relação.
Mas quando sai a rua, vira do avesso, imoral, irresponsável, repudia a vida a dois.
O ar de bom moço, de rapaz direito, logo se esvai quando bota o pé na rua.
Mas na volta a casa, limpa o pescoço, tira o cheiro do perfume e volta para amar.

terça-feira, 18 de setembro de 2012

O valor de um copo d'água

Só percebemos realmente o valor que tem um copo d'água quando a garganta inflama, e cada gole se torna uma tortura, como se mil cacos de vidro penetrassem a sua garganta. É ai que você pensa em como seria maravilhoso tomar, de uma só vez, um copo bem gelado de água...
Apenas percebemos o quanto uma amizade é valiosa quando ela se muda, para bem longe, e a única forma de manter contato é as vezes por telefone, outra vez por internet, e nos lembramos das loucuras feitas juntos, das tardes perdidas com conversas bobas, de todas as viagens, festas e maluquices que ainda jurávamos fazer juntos. E nos tocamos que, talvez, nunca mais vamos voltar a ter de novo aquela amizade de antes, como era nos “bons tempos”...
Só pensamos no merecido valor de nossos pais quando eles morrem. E nos arrependemos de todas as brigas que tivemos com eles, todas as palavras duras que proferimos, todos os dias em que não dissemos "eu te amo".
Só vamos aprender a dar totalmente valor as nossas pernas se um dia nos encontrarmos em uma cadeira de rodas, e pensaremos em como nós mal a usávamos, em como era um tormento ter que andar alguns metros, ou subir uma escada. E vamos sentir uma vontade imensa de dar uma volta ao mundo andando, de correr durante horas, de sentir o pé tocando a areia da praia, a terra molhada...
Apenas damos valor a alguém que amamos quando ela está com outra pessoa, e percebemos que, talvez, nunca mais vamos a ter. E pensamos em todos os bons momentos juntos, os beijos apaixonados, os fortes abraços, as noites em claro. E nos lembramos dos erros, a maioria bobos, que fizeram com que perdêssemos o nosso amor.
Nossa infância só tem realmente valor quando a velhice chega e a saudade bate, nos torturando a cada batida do coração. E nos lembramos de todas as brincadeiras, das aventuras, da simplicidade, das paixões pueris, dos velhos amigos, da falta de preocupação, das pequenas e simples coisas que só uma criança sabe aproveitar bem.
Nossa vida só recebe o valor que merece quando estamos deitados, e sentimos a morte chegar, lenta e cruel. Ha! É nessa hora que damos todo o valor do mundo as nossas vidas. Nos lembramos, vagamente, de todas as melhores coisas que fizemos. O primeiro beijo, a melhor viagem, a melhor festa, a melhor comida que já comemos, a família, nossos animais de estimação, nossas maiores loucuras, as aventuras, o melhor amigo, o primeiro amor, o último amor, todos os “eu te amo's” que ouvimos. E vamos sentir vontade de voltar no tempo e provar tudo isso de novo. Prometeremos a nós mesmos que se conseguirmos voltar, dessa vez vamos dar todo o valor do mundo a todos os momentos vividos, com toda a intensidade possível.
Só vamos valorizar a nós mesmos quando estivermos debilitados, e não restar mais tempo de mudar, ou de fazer nada. Absolutamente nada. É justamente ai que nossa vida vai ter valor, o merecido valor...

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Cortinas vermelhas

Eu finjo que te amo.
Declamo dezenas de poesias com seu nome.
Mas é tudo parte da minha encenação.
Eu finjo que morro de saudades.
As vezes até choro, sozinho.
Finjo tão bem que você faz parte da minha vida,
que morreria em seu lugar.
Que me mataria,
caso você morresse.
Mas, claro, faz parte do meu jogo.
Do meu teatro bem encenado.
Sou tão bom ator que implorei,
e às lágrimas te convenci a voltar,
quando você me deixou.
Minhas mãos trêmulas quando te vejo, meu coração acelerado,
minhas pupilas dilatadas, meu sorriso bobo,
tudo isso é parte do meu truque.
Sou tão bom ator que vou atuar para sempre.
Fingirei ser o seu marido.
O pai de seus filhos.
Fingirei que minha vida foi perfeita, quando ficarmos velhos.
Agora eu finjo que a sua felicidade é o sentido da minha vida.
Que fico feliz ao satisfazer todos os seus desejos,
seus caprichos.
Meus beijos fingidos, meus abraços encenados,
minhas palavras falsas, sempre te fizeram morrer de amor.
Eu finjo que te amo.
E você, boba, acredita.

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Sorriso travesso

O sorriso dela tem vida própria.
É sorriso criança, travesso.
As vezes voa pelo ar, as vezes corre pela casa.
Hora ou outra se esconde, e tão bem, que é difícil achar.
O sorriso dela não sabe a hora de parar.
Costuma varar a madrugada pentelhando todo mundo.
Não tem grito que o sossegue.
É sorriso que não respeita ninguém.
Tem dia que nem dor o faz inquietar.
O sorriso dela não tem compaixão.
Se diverte com a desgraça alheia, com tombos, topadas...
É sorriso sem-vergonha.
Sem culpa, sem regras.
Não tem hora para chegar, nem para ir embora.
É o mais doce dos sorrisos.
De dar inveja aos outros.
Quando ele chega fazendo barulho, contagia todo mundo.
É sorriso bagunceiro. Levado. Bobo.
Se fascina com cada descoberta, cada coisa nova que vê.
A simplicidade dele dá vontade de chorar.
O sorriso dela tem vida, vida própria.

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Olá, saudade

Nunca mais.
Nunca!
Nunca mais um abraço.
Um beijo.
No rosto, que seja.
Nunca mais o seu olhar.
Pernas entrelaçadas.
Braços enrolados.
Nunca mais conchinha.
Massagens.
Loucuras.
Mãos dadas.
Nunca mais uma receita.
Madrugada de filmes.
Nunca mais um passeio pela praça.
Porto Seguro.
Búzios.
Praias.
Nunca mais o mochilão.
Ha, o mochilão.
Nunca mais um pulo de surpresa.
Nunca mais uma surpresa.
Nunca mais presentes.
Cinema.
Restaurantes.
Hot Filadélfia.
Nunca mais o seu sorriso.
E que sorriso.
Ha, que sorriso.
Nunca mais suas idéias.
Nem seus conselhos.
Nunca mais te mimar.
Nunca mais o seu ciúme.
Nunca mais o seu cheiro.
Seu toque.
Seu rosto.
Seu cabelo.
Nunca mais diários de viagem.
Nunca mais um porre.
Um mergulho.
Nunca mais um por do sol.
Nem um nascer.
Nunca mais ligações de madrugada.
Nem um "Beijos, te amo".
Nunca mais planos para o futuro.
Nunca! Nunca mais casamento.
Nunca filhos.
E quantos seriam.
Nunca mais casa com quintal.
Árvores.
Balanço.
Cachorros.
Nunca mais o seu charme.
A sua beleza.
E que beleza. A maior de todas.
Nunca mais o seu corpo.
Nossa! Seu corpo.
Nunca mais.
Nunca mais histórias.
Nunca mais experiências.
E seriam tantas.
Nunca mais carinho na nuca.
Nunca mais apelidos.
Nunca mais as simples coisas da vida.
Nunca mais um boteco.
Nunca mais uma noite apaixonante.
Um piquenique.
Nunca mais acordar cedo.
Nem tarde.
Nunca mais suas danças.
Suas loucuras.
Nunca mais suas piadas.
Nunca mais viagens.
Nem projetos.
Nunca mais sua cara de sono.
Nem dormir abraçados.
Nunca mais sua paixão.
Enfim, nunca mais seu amor.